domingo, 15 de junho de 2025

Houve um tempo em Paranaguá…

Que caminhar pelas ruas de Paranaguá era como folhear um livro vivo de história. Os casarões do Centro Histórico ainda ostentavam suas janelas coloniais com orgulho. A Praça Fernando Amaro era ponto de encontro, de namoros à moda antiga e conversas que começavam no fim da tarde e só terminavam quando a lua já tinha subido alto.

A cidade, Mãe do Paraná, não era apenas um título bonito — era um símbolo de respeito. Ali nasceu o estado, ali aportaram os primeiros sonhos do litoral. A Igreja de São Benedito resistia firme ao tempo, assim como o Santuário do Rocio, que ainda hoje guarda promessas e passos de fé. O Mercado Municipal fervilhava, não só de peixes e mariscos, mas de histórias contadas com sotaque puxado e alma caiçara.

Naquela época, a política local era feita de outro jeito. Claro, não era um mar de flores — mas também não era uma corrida cega por curtidas e manchetes. Governar era compromisso. Zelar pelas praças, restaurar os casarões, ouvir os moradores. O cuidado era visível — não só nas obras, mas no olhar de quem entendia que o patrimônio público não é só pedra e cal, é memória coletiva.

Hoje, passamos pelas mesmas ruas com o coração apertado. Alguns casarões choram tinta descascada. Outros, tombaram sem precisar de tombamento oficial. As praças ainda recebem passos apressados, mas faltam bancos ocupados por boas conversas.

A impressão é que, em algum momento, o amor por Paranaguá deu lugar à pressa. À pressa de prometer, de aparecer, de eleger.

Mas quem conhece essa cidade de verdade sabe: Paranaguá é teimosa.
Assim como resistiu a invasões, epidemias e enchentes, há de resistir ao descaso. Porque história não se apaga — se reescreve com cuidado, coragem e compromisso.

___Ezequiel Ferreira 
@paranaguaemfoco