Que caminhar pelas ruas de Paranaguá era como folhear um livro vivo de história. Os casarões do Centro Histórico ainda ostentavam suas janelas coloniais com orgulho. A Praça Fernando Amaro era ponto de encontro, de namoros à moda antiga e conversas que começavam no fim da tarde e só terminavam quando a lua já tinha subido alto.
A cidade, Mãe do Paraná, não era apenas um título bonito — era um símbolo de respeito. Ali nasceu o estado, ali aportaram os primeiros sonhos do litoral. A Igreja de São Benedito resistia firme ao tempo, assim como o Santuário do Rocio, que ainda hoje guarda promessas e passos de fé. O Mercado Municipal fervilhava, não só de peixes e mariscos, mas de histórias contadas com sotaque puxado e alma caiçara.
Naquela época, a política local era feita de outro jeito. Claro, não era um mar de flores — mas também não era uma corrida cega por curtidas e manchetes. Governar era compromisso. Zelar pelas praças, restaurar os casarões, ouvir os moradores. O cuidado era visível — não só nas obras, mas no olhar de quem entendia que o patrimônio público não é só pedra e cal, é memória coletiva.
Hoje, passamos pelas mesmas ruas com o coração apertado. Alguns casarões choram tinta descascada. Outros, tombaram sem precisar de tombamento oficial. As praças ainda recebem passos apressados, mas faltam bancos ocupados por boas conversas.
A impressão é que, em algum momento, o amor por Paranaguá deu lugar à pressa. À pressa de prometer, de aparecer, de eleger.
Mas quem conhece essa cidade de verdade sabe: Paranaguá é teimosa.
Assim como resistiu a invasões, epidemias e enchentes, há de resistir ao descaso. Porque história não se apaga — se reescreve com cuidado, coragem e compromisso.
___Ezequiel Ferreira
@paranaguaemfoco